Missão do HSBC no Brasil é ser banco de atacado, mas varejo é estudado, diz presidente

02/09/2021
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Alexandre Guião, presidente do HSBC Brasil, diz que conglomerado analisa várias alternativas (Por Cynthia Decloedt -  Foto: HSBC/divulgação)

Desde que vendeu sua operação para o Bradesco, em julho de 2016, o HSBC vem reconstruindo sua subsidiária brasileira. Antes focada no varejo, a filial voltou-se às maiores empresas do País, nacionais e multinacionais, e operações globais. “Recomeçou” com o atendimento a 70 grupos econômicos e dobrou a carteira de clientes ano a ano, nos últimos cinco anos. Hoje, o HSBC Brasil tem 400 clientes e, a partir do meio do ano que vem, estima alcançar 500. Deve deixar o crescimento geométrico a essa altura, mas estima ganhar participação de mercado.

Alexandre Guião, presidente do HSBC Brasil, diz em entrevista ao Broadcast que o banco prioriza totalmente neste momento a oferta de serviços ao atacado, ou seja, para empresas. Porém, no ano passado, o HSBC recuperou sua autorização junto ao Banco Central para operar como banco múltiplo, o que reabriu outras possibilidades de oferta de serviços no mercado local.

Assim, o conglomerado estuda possibilidades de atuar novamente no varejo no País. “Estamos analisando, enquanto conglomerado, várias alternativas”, afirma Guião. “No momento, o foco do banco é o atacado: é a missão que temos a fazer. Mas o banco, em nível mundial, tem o varejo, principalmente na Ásia, na Europa, no México e na Argentina.”

Guião fala ainda sobre bancos digitais, o alto custo de investimento e sobre tecnologia, especificamente o blockchain, aplicado no universo dos bancos de atacado no mundo. Também observa que muitas empresas estão antecipando renovações de empréstimos, inclusive via mercado de capitais, diante da expectativa de aumento da volatilidade no ano eleitoral de 2022. Leia, abaixo, a entrevista:

Broadcast: Qual tem sido o impacto da tecnologia e das mudanças regulatórias no Brasil, dando maior abertura à competitividade, no HSBC Brasil?

Alexandre Guião: O mundo digital é uma tendência sem volta, e o banco tem investido bilhões de dólares em nível mundial para ter eficiência. Um bom exemplo é a carta de crédito via blockchain feita para a Vale na Ásia, com a qual reduzimos em dez vezes o tempo de processamento, sem contar com a eficiência de redução de documentos para lá e para cá. Fechamos em um dia. Isso mostra para onde o banco está indo. O HSBC nasceu exatamente para financiar o comércio exterior entre Europa e Ásia, somos líderes mundiais e trabalhamos para seguir na liderança. Fizemos essa primeira carta de crédito e faremos outras. A disrupção maior está no varejo, mas sabemos que chegará para a gente.

Broadcast: E o open banking?

Guião: Estamos nos adaptando, fazendo a transformação interna, atualizando sistemas e faremos parte do open banking. Como um banco internacional, presente em mais de 160 países, essa conectividade nos traz vantagem. Open banking já é uma realidade na Europa (nossa sede está na Inglaterra) e já sabemos como jogar esse jogo. Obviamente, aqui o Banco Central está ‘faseando’ e tem um tempo para acontecer, mas estamos nos preparando. Com a venda do banco em 2015/2016, tivemos a vantagem, de construir um banco do zero e ter a flexibilidade de apenas moldar nosso sistema e plugar ao do banco mundial, para nos adaptarmos a essa ebulição dos meios de pagamento e fintechs. São investimentos de bilhões de dólares em nível mundial e uma parte disso vem para o Brasil. Mas há alguma preocupação.

Broadcast: O que preocupa especificamente, uma vez que os desafios trazidos pela tecnologia e pelas fintechs têm acontecido mais no varejo?

Guião: As principais fintechs olham nichos primários, nos quais há necessidade maior, mas temos de nos preparar para continuar competitivos. Nunca se sabe de onde virá a competição. Além do blockchain, outras tecnologias estão sendo aplicadas na alocação das ordens aos investidores em ofertas no mercado de capitais. As fintechs, no momento, principalmente no Brasil, estão mais no varejo do que no atacado. Vamos pensar no caso prático, o das plataformas de investimento. A XP lançou seu banco e viabilizou, por meio do varejo, sua entrada no atacado. Isso é um exemplo dos novos competidores e de onde estão surgindo. Por isso, temos de estar preparados para todos os tipos de competidores.

Broadcast: O HBSC pensa em voltar para o varejo no Brasil, pela via de banco digital?

Guião: Não vou falar “nunca não, sempre não”, mas estamos analisando várias alternativas. No momento, a prioridade é o atacado e é a missão que temos a fazer. Mas é um mercado muito grande, o banco globalmente tem o varejo, principalmente na Ásia, na Europa, no México e na Argentina. O foco é o atacado, mas deixar de analisar e olhar as oportunidades, a gente não deixa.

Broadcast: É mais barato ter um banco no varejo do que era no passado, pela possibilidade do digital?

Guião: Sem dúvida. Pensando como CEO de um conglomerado como o HSBC, há um universo finito de investimentos, ou recursos disponíveis para investir, e o mundo inteiro competindo. Então, o grupo está olhando oportunidades e decidindo para onde vai canalizar recursos. O varejo é hoje mais barato, mas o investimento ainda é alto e vemos as alternativas do mercado, com fintechs crescendo e aquisições, como a do JPMorgan comprando 40% do C6 Bank. São realidades, mas ao mesmo tempo, após esses investimentos, os valuations vão lá para cima. O CEO mundial está olhando o cenário e, no momento certo, a gente vai canalizar para os lugares certos. No Brasil, estamos focados no atacado. Na Ásia, em Hong Kong, temos a plataforma PayMe, que é exatamente um banco digital, como está sendo feito aqui. Como somos um conglomerado mundial, não deixamos de olhar as alternativas como um todo.

Broadcast: Como tem sido a evolução do banco?

Guião: Há cinco anos, começamos o banco com 70 clientes. Hoje, estamos com quase 400 e queremos chegar a 500 grupos econômicos do meio para o fim de 2022. Os volumes de transações têm dobrado a cada seis meses, obviamente, porque os sistemas são novos. À medida que atingirmos a maturidade com 500 clientes, o numero de transações deve se estabilizar e teremos crescimento mais normalizado. Obviamente, vamos continuar ganhando participação de mercado, mas vamos sair de crescimento geométrico para aritmético. Nosso orçamento deste ano já está duas vezes acima da meta do meio do ano, em termos de lucro antes de imposto.

Broadcast: Quais são os grupos econômicos que o HSBC busca ter em sua carteira?

Guião: Empresas multinacionais e as brasileiras, grandes corporações como Vale, Petrobras, Votorantim. Nas multinacionais, nosso critério é ser cliente do banco em nível mundial. O banco quer reforçar a conectividade no mundo e trabalhar em corredores, Brasil-Américas, Brasil-Europa e Brasil-Ásia.

Broadcast: Qual é a área de maior atividade hoje do HSBC no Brasil?

Guião: A tesouraria, na qual o banco oferece serviços de câmbio e derivativos. A segunda é a de empréstimos e banco de investimento. O segmento de cash management tem um futuro promissor, é onde queremos chegar e esperamos que, em três anos, seja a segunda área mais rentável do banco. A tesouraria é uma área muito forte, de excelência, assim como é a área de mercado de capitais de dívida no exterior. Quando vendemos o banco, em 2015, só podíamos fazer operações transnacionais e a tesouraria sempre foi muito importante. Depois lançamos trade finance, em 2019 , e que em nível mundial é muito forte no HSBC e a tendência é ser aqui.

Broadcast: O HSBC usa critérios ESG para selecionar clientes ou na concessão de crédito?

Guião: o banco tem políticas concessão de crédito relacionadas à sustentabilidade. O próprio HSBC se comprometeu a zerar a emissão de carbono até 2030 e investir mais de US$ 1 bilhão nessa área nos próximos cinco anos. Estamos ajudando nossos clientes a fazer essa transição, que muitas vezes exige investimentos pesados. Não financiamos mais usinas a carvão, com raras exceções, relacionadas a países muito pobres e a pedido de bancos de fomento, por questões humanitárias. O assunto também aparece na distribuição dos títulos de dívida lá fora, de bonds. No Brasil, acabamos de aprovar internamente a concessão de empréstimos relacionados a métricas de baixa emissão de carbono.

Broadcast: Como o HSBC vê o ambiente político econômico conturbado no País e como isso se reflete nos negócios?

Guião: O ano que vem é de eleição e sempre há volatilidade maior. Tivemos uma antecipação da volatilidade e é um desafio grande. Ao mesmo tempo, estamos saindo da pandemia e existe atividade econômica represada. Quando o cenário eleitoral caminhar mais, a depender das pesquisas, o mercado de capitais pode ficar mais fechado. Por isso, as empresas estão antecipando as renovações para evitar essa potencial volatilidade. Se chegássemos lá com a definição de quem será o novo presidente, facilitaria. Não será o caso, teremos indefinição política até o novo presidente (ser eleito). Por isso, o conservadorismo tende a ir aumentando. (Fonte: Estadão)

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